O ônibus desce a Avenida Brasília e eu já acordo, vejo o Bola 7, a Federal e outros estabelecimentos que eu não conhecia ou me fugiram o nome, transporto-me para um livro de Ganymedes José que estudei na 8ª série no IE de 2004, lá ele contava a história de Marília de Dirceu e a famosa Ladeira da Saudade onde os apaixonados se encontravam, a minha Ladeira é Av. Brasília, onde volto apaixonada por minha querida cidade.
Ao chegar a rodoviária numa madrugada me deparo com uma cidade vazia, um silêncio que desperta minha curiosidade: por que Araçatuba dorme tanto? Desço novamente a Ladeira e sigo pela Pompeu, antes da traseira de uma bicicleta e agora no banco de trás de um carro. Observo a fachada do Araçatuba Shopping, a reforma do córrego e o silêncio. Saio do centro e me adentro pelos bairros Icaray e Jussara, passo pela passarela que agora está segura e engaiolada. As lembranças veem à mente, as idas e vindas da escola, os “quase” acidentes ocorridos pelo trânsito de motos em lugares indevidos. Avisto o Supermercado Rondon que cresceu com os meus pais; recordo-me dos vários sorvetes e churros degustados depois de uma compra mensal.
Adentro-me para o seio da minha família, vejo a igreja Nossa Senhora de Fátima onde fiz minha Crisma, passo pela rua São Francisco onde uma tia mora e onde passei momentos maravilhosos. Sigo por uma rua principal que liga o Jussara com o Lago Azul, avisto a granja onde buscava ovos com meu pai nas manhãs de sábado, o pasto que continua o mesmo, mas ao fundo vejo as “torres” da Fábrica da Nestlé.
Ao entrar no bairro da minha infância me deparo com outro em expansão, um que não sei o nome, mas já é composto por muitas casas e histórias que me são alheias.
Vejo a igreja de minha primeira comunhão, lembro-me das leituras que fazia quando frequentava os bancos dela; avisto duas escolas a “Antonio Rodrigues Martins Neto” e “Mariana Guedes Tibbagy”... as lágrimas correm... Recordo-me dos dias de berçário, parquinho e cadeiras, metade da minha vida passei nelas.
Na minha rua não vejo mais tantas árvores como antigamente, não há tantas crianças brincando, talvez estejam em frente a tela de um computador, assim como eu também estaria... Lembranças dos campeonatos de futebol que fazíamos, das tabelas de basquete em frente de casa, do barbante que ligava um portão ao outro para jogarmos vôlei, da tevê na calçada e o sofá no asfalto para vermos a Copa do Mundo de 2002.
Procuro a chave do portão, grito “O de casa” minha mãe vem correndo e me dá AQUELE abraço apertado, é difícil não deixar as lágrimas escorrerem... ela me avalia e pergunta se estou com fome, diz que meu pai fez a ábobora cabochã com carne seca como eu havia pedido, eu ainda estática a observo e meus olhos expressam o amor que eu havia negado na minha tenra infância.