quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ser bipartido



Eu desejo inteiramente que ela apareça e me transforme numa borboleta, o casulo está me incomodando imensamente. Quero pousar meus olhos no seu corpo juvenil, percorrer suas montanhas pelo riacho sem água que transpiram aquelas gotas singelas de suor, que rolam, que deslizam calmamente. Meus olhos registram a linha que a separa, da cabeça até a fenda, até a divisão dos seus lábios... aqueles lábios!


Minha menina acompanha os movimentos dos seus pés, incontroláveis. Congela-a numa pose que lhe agrada. A panturilha. A boca saliva como um cachorro louco, com fome absurda. Seu corpo exige o alimento para continuar vivendo sã, sanamente vital. A menina na imensidão dos seus mares fica estática, as mãos num frenesi querendo tocá-la, repousá-las em seus fios de ouro. Fios de ouro que diminuíram com o corte brusco, o corte que não afetou a apreciação.


Meus olhos repousam numa folha em branco, e num plano imagético cria a personagem com suas lembranças... Com seus sonhos que causam insônia. A imagem que faço dela, fruto de um desejo constante de poetizá-la, materializá-la em algumas linhas... Eternizando-a.




Ela levanta-se


E eu paro minha leitura


Bruscamente...




Meus olhos a seguem


Depois voltam para o papel


As letras de embaralham


Perco-me em pensamentos...




Em círculo a contemplo


Num êxtase incontrolável


Cada movimento dado


Desperta em mim


Um riso exagerado.




Ela caminha


E eu tremo


Não consigo me conter


A musa é estonteante


Faz-me desfalecer.




Duas semanas me restam


De martírio...


Incessantemente não a verei...


Partirei para outro desafio...




Musa de um semestre


Recordações para a vida toda...


Musa que despertastes


A loba que em mim


Instala-se...

2 comentários:

Daniel Ven Friend disse...

Belo poema... Cheio de nuance... cheio de coisas que nascem para sustentar os livres pensamentos das entrelinhas...
Poema de gotas de suor, de suave rumor, de fendas profundas, de arrepios pela pele.
O que é ser bipartido? O que eu sei que é. O que flutua no ar e segura firme pelos quadris!

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Beatriz, ler o seu texto e depois fechar os olhos e deixar correr a imaginação...extase.